Crónicas do Corvo Negro - Pergaminho da Ilha
Celebrar a vida é abraçar o sopro que nos acolhe, que nos alimenta, é agradecer o que surgiu em nós, o que nos fez crescer e aprender. Celebrar a vida é receber a bênção para novos e admiráveis caminhos, que insondavelmente nos oferecem conhecimento e discernimento para encontrar a verdadeira felicidade. Celebrar a vida é dar graças ao ato que é viver. As nossas vivências são os mais puros e completos ensinamentos, nos quais, não viajamos sozinhos. Percorremos um caminho comum, caminhando de mãos dadas com aqueles que amamos. São eles que acarinham os nossos medos para que se libertem e se transformem em deliciosas surpresas maravilhas da vida. Destes momentos sobra a lembrança que é a chama que preenche a riqueza desta jornada que é viver.
Depois de ter encontrado uma mensagem do Corvo negro sobre a manhã com um pedido especial, o qual, me roubou um sorriso espontâneo, dirigi-me à grande biblioteca onde os pergaminhos estão guardados nas aclamadas etiquetas.
Coloquei uma chave especial feita de ferro forjado, adornado com a cabeça em forma de rosa gentil
e rodei três vezes. O movimento fez mover os ferrolhos da porta de formato floral, abrindo-a.
Um ligeiro vento entrou antes de mim e retirou da prateleira altiva o pergaminho pedido. Aguardei junto à ombreira enquanto o vento o fez deslizar, depositando-o nas minhas mãos, que logo se agitou ansioso por contar a sua história. A leitura, deste pergaminho, faço-a no colorido jardim do castelo onde me sento, tranquilamente, num lindo banco de pedra envelhecida e fresca. O pergaminho voou ligeiramente até à minha frente e falou.
e rodei três vezes. O movimento fez mover os ferrolhos da porta de formato floral, abrindo-a.
Um ligeiro vento entrou antes de mim e retirou da prateleira altiva o pergaminho pedido. Aguardei junto à ombreira enquanto o vento o fez deslizar, depositando-o nas minhas mãos, que logo se agitou ansioso por contar a sua história. A leitura, deste pergaminho, faço-a no colorido jardim do castelo onde me sento, tranquilamente, num lindo banco de pedra envelhecida e fresca. O pergaminho voou ligeiramente até à minha frente e falou.
O corvo negro aproveitou o afectuoso sabor do vento que o levou rápido até uma fértil e verdejante ilha. O cheiro da maresia era aconchegante debaixo do sol que aquecia o mundo. A vista era admirável com o arvoredo a namorar a rocha negra, enquanto as flores silvestres decoravam a estação em vida.
Aquela ilha era conhecida por nela habitarem três espíritos mágicos da natureza, as belas e divertidas ninfas. É sabido que as ninfas são apaixonantes, melodiosas e aventureiras. Aquelas que o corvo negro corria a encontrar, eram ninfas especiais e bondosas. E este dia, é bem especial, pois no salão haverá festa. O anfitrião terá, por isso, de encontrar as três ninfas que governam a ilha com harmonia, equilíbrio e abundância.
A primeira ninfa vivia numa gruta rochosa debaixo de água onde uma fabulosa e gigantesca concha luminosa se afigura como sua casa. O corvo negro sobrevoou o pequeno pico da grande e profunda gruta, que sobressaia fora da água do mar selvagem, e aguardou que este abrandasse para mergulhar. O mar pareceu conceder-lhe a vontade e sossegou por momentos. É sabido que o corvo negro é um corvo mágico, e assim se mostrou mago. Sussurrou palavras encantadas e à sua volta criou-se uma bolha que permitiria estar debaixo de água durante longos momentos. Sentindo a rocha fresca por baixo de si, apressou-se a mergulhar até ao reino da ninfa do mar. Enquanto nadava até à concha que preenchia todo o seu horizonte debaixo de água, pode assistir à beleza que adornava aquele lugar fantástico, onde um colorido e vasto coral decorava todo o espaço com cor e magia.
Pousou num aglomerado de pedras com conchas coloridas e grasnou em chamamento. Passados momentos um rosto amigo e simpático apareceu à sua frente.
- Bem hajas caro amigo. Não te esperava tão cedo – respondeu a ninfa do mar contente pela visita inesperada. A sua voz ecoava pelo espaço como uma melodia doce e o corvo sentiu-se enfeitiçado.
- É certo, cara amiga. Mas um evento a celebrar exigiu a minha pressa, julgo que irás gostar o que reservo para uma amiga em comum – contou-lhe entre o olhar encantado e ansioso da ninfa do mar que acenou logo em concordância.
- Ela vai adorar, que excelente ideia. Terás de esperar só mais uns momentos para que eu beba uma infusão de algas e caminhe pelas minhas pernas. As escamas não me permitirão chegar ao teu salão.
O corvo negro acenou aguardando. A ninfa do mar, também conhecida como Sandra, arranjara os seus cabelos numa longa trança, presa por duas belíssimas estrelas do mar e finalizou a metamorfose. O anfitrião sorriu maravilhado pela mudança e agitou as suas asas. Com um sorriso, Sandra despediu-se do corvo negro e encontrou-se rapidamente no salão. Deu por si de frente a dois lobitos muito curiosos.
O corvo negro seguiu depois, caminho até à ilha onde pisou terra fresca e limpa. Lá sentiu a vida em rubro. Contemplou a magnificência de uma natureza respeitada e genuína. Agradeceu aquela viagem até tão lindas e compensadoras paragens e deu graças por existirem tais locais cheios de encantos.
O anfitrião ansiava agora por encontrar a ninfa do campo. Através dela, os pastos são férteis e a estação é generosa. A decoração dos campos era apetitosa e radiante. Corvo negro caminhou pelos campos demorados de papoilas e malmequeres inspirando a sensação de paz daquele lugar. Foi surpreendido pela ninfa do campo, que se confirmou tão bonita e alegre, com uma coroa de flores sobre o cabelo namorado pelo vento.
- Saudações amigo corvo. O que te traz tão cedo a estas paragens? – perguntou enquanto rodava numa dança com dúzias de borboletas seduzidas.
- Vamos fazer uma surpresa à ninfa da floresta. Vamos celebrar o seu aniversário e, se quiseres aceitar o meu convite para o reencontro no meu salão, faremos já a viagem. És muito bem-vinda e haverá muitas surpresas – tentou o corvo negro piscando o olho e sorrindo graciosamente.
- Ah! Então vamos a isso – respondeu sempre sorrindo como se apenas conseguisse falar cantando – eu sei onde ela está, vamos caminhando para lá?
Os dois amigos seguiram por caminhos limpos e acarinhados por imensas mãos e vozes que só um coração puro consegue sentir e ouvir. A natureza é um espirito vivo e com ele vive a nossa alma diariamente. Um namoro pegado, muito desejado, muito verdadeiro.
Lá estava a ninfa da floresta, num curto e largo vestido verde feito de heras e fetos, com uma coroa de flores do rebento da primavera. Descalça e feliz, consertava uns ramos descaídos de uma árvore antiga para que um ninho não fosse destruído pela queda de um abraço da natureza.
- Amiga ninfa dos campos, ou melhor, amiga Jojo, é melhor ires andando para o salão. A ninfa da floresta de nada pode desconfiar – o corvo negro viu no rosto de Jojo um largo e sincero sorriso que lhe alimentou a alma e com o agitar de asas, mais um membro chegou ao salão. Sentindo a sua chegada, foi docemente recebida pela raposa que a esperava junto com Sandra e dois lobitos irrequietos.
O corvo negro avançou num voo rápido e aterrou ao lado do ninho que com o seu bico ajustou os galhos para um cantinho resguardado do ramo.
- Amigo corvo negro! – acenou a ninfa da floresta contente pela visita – o que fazes aqui? – perguntou tímida unindo as mãos e balançando. Definitivamente, desconfiava que o corvo teria ido até à ilha felicitá-la pelo seu aniversário, mas teria de ser firme e aguentar a felicidade que mais tarde seria completa.
- Viva, amiga ninfa da floresta, este lugar é sempre muito harmonioso, tens feito um belíssimo trabalho – piscou-lhe o olho muito seguro do seu discurso pouco revelador – tive de abreviar a data para a tua viagem ao meu salão. Ainda tenho um longo caminho a percorrer para encontrar todos os membros do Fiacha. Aceitas vir comigo? – perguntou o corvo negro aterrando no seu ombro.
- Abreviar? – respondeu com um olhar sorridente e curioso – Vou sim, a estação está a terminar e logo começarão as chuvas. Será um repouso para que a mãe natureza abrace esta ilha até à sua gema. Mas antes de irmos, que tal um passeio pela minha floresta?
- Aceito com muito agrado – respondeu o anfitrião caminhando ao lado da ninfa da floresta.
Entretanto no salão do anfitrião, os membros chegados, apressavam os preparativos para o baile de aniversário. As chamas vivas dos candeeiros vestiram-se a preceito para a ocasião. O anão de barbas longas, lá estava todo direitinho com a sua barba amparada e arranjada em trança larga com um bordão da sua casa, como mandam as suas origens. Não largava o seu escudo tendo Ubik ali por perto, receava-o apesar do dragão negro ter-lhe já assegurado que não havia qualquer perigo. Mas o anão é um excelente guarda e muito desconfiado.
As ninfas, do mar e do campo, tinham terminado o bonito bolo de aniversário. Os cavalheiros Ubik e dragão negro logo se aprontaram a carregar o saboroso bolo até ao salão. Mas durante o percurso, o bolo explodiu e apenas sobraram pepitas de chocolate e chantily sobre eles próprios. Ubik olhou boquiaberto para o dragão negro.
- Um espirro de um dragão pode ter um efeito desastroso – respondeu o dragão negro mostrando umas faces rosadas.
Pasmados, olharam a raposa e as ninfas que sérias, desataram a rir juntamente com Maria_queenfire que entretanto chegara com os lobitos que se aproveitaram da situação.
Maria_queenfire colocou mãos à obra. Soprou ao vento generoso e nele desenhou uma belíssima tela onde apareceram os rostos mais especiais para a ninfa da floresta. Uma tela que foi sobreposta sobre o seu lugar à mesa. Assim que o pergaminho voasse para as mãos do valente anão, a tela viva seria mostrada com os sorrisos e gestos que cada amigo e familiar tinham para lhe entregar. A ninfa do campo, a Jojo, espalhou jarras de flores decorando o salão de cor e cheiros agradáveis.
Ubik contribui de forma especial, retirou cinco homens da sua capa e colocou-os a ler num aposento seguro de cada candeeiro, e das suas histórias, apareceram cenários fantásticos, personagens encantadas que surgiram sobre o tecto do salão. As chamas vivas regozijavam-se com o divertimento e encantamento ali criado.
Finalmente a ninfa da floresta, nascida Catarina e conhecida no Fiacha como páginasencadernadas, chegou ao salão junto com o corvo negro. Já estavam todos reunidos em frente a um novo bolo magnífico, cheio de cor e de vários andares que aguardava elegante com as velas acesas em celebração de mais um aniversário e logo uma melodia foi entoada por mil vozes.
A ninfa Cata estava deslumbrante com a surpresa preparada pelos seus amigos e quando a tela se revelou, esboçou um sorriso no rosto com um olhar onde brilhava uma lágrima. As velas foram sopradas com a bênção de um ano cheio de felicidade.
Quando a melodia do aniversário terminou apenas se ouviu o anão de barbas longas cantarolar:
Parabéns ao membro aniversariante,
que chegou ao salão,
corta uma fatia de bolo
e dá cá ao anão!
És tão bonita e generosa
com o brio de uma rosa
dá cá um beijinho
que eu sou muito bonitinho!
Todos sorriram alegres e comemorativos. O baile começou e se prolongou pelo presente dia.
Muitos parabéns Cata!
Guardiã do Tempo